CRENÇAS DO REINO

Há muitas eras atrás, um pouco antes do início dos mundos, o universo era revolvido em caos, medo e sombras. No centro de tudo havia uma luz, um ser de luz que envolvia com o próprio corpo uma esfera. Havia tentativas de corrupção dos invasores a fora, mas nenhum deles era capaz de penetrar a proteção de Saad.

A Grande Deusa Saad, vivendo em solidão, decidiu criar outros seres para partilhar sua vida imortal. O primeiro foi Lial, criado a partir do próprio coração. Emotivo, forte e caloroso. Ela continuou. Em seguida veio Maimie, parte do seu estômago. Viera Aurum, formado através de uma gota de sangue. Evo, por sua vez, foi uma criação diferente: nasceu de um desejo atrasado de Saad de viver sem a solidão. Era tempestuoso, provido da luxúria e ansiava tocar as sombras que os rodeavam.

Em um momento de descuido ao proteger a esfera, Evo mergulhou no caos. Ao retornar estava diferente, mais ambicioso e queria ser como Saad, um criador. Isso, porém, deixou-a desgostosa. Sabendo que não conseguiria o que queria, apelou para Aurum cujo poder era parecido com o da matrona, o convencendo, o moldando e corrompendo. Aurum foi devorado pelas trevas sem que percebesse, principalmente quando Evo o empurrou para aquele mar escuro.

Saad ficou devastada. Seus gritos irromperam por todo o universo, rachaduras preencheu a grande esfera momentos antes de se estilhaçar e formar o universo conhecido. Infelizmente, as sombras se misturaram com a luz e os fragmentos, criaram mundos em chamas, congelados e de puro caos. Este último a Grande Deusa o reformulou e construiu uma grande prisão para Evo.

Os outros filhos sabiam que se não houvesse intervenção as trevas controlariam tudo. Com permissão de Saad e abençoada por ela, cada um ficou responsável por algo. Maimie criou os elementos, a água e a terra que com elas formou montanhas, rios e desertos. Lial dominou o fogo e o ar e através de um sopro escaldante criou os seres vivos, principalmente os humanos. Juntos, desenvolveram o que era preciso. Evo também não descansou, onde havia luz havia sombra e vice versa, dessa forma formou a maldade, demônios e compartilhou medo. Como os mundos têm a mesma origem, Evo encontrou após muitas eras passagens para plantar suas sementes sem que Saad soubesse. Os humanos defendem que isso criou as bruxas enquanto elas afirmam que isso colocou perversão no coração humano.

Saad se isolou para manipular toda energia que aqueles mundos jorravam em abundância, um perigo para o equílibrio e tendencioso para a volta das trevas. Com os humanos e bruxos fervorosos, Lial roubou dois ossos do irmão morto. O osso do braço para a criação de Titania, a Senhora das mulheres e o osso da coxa para Zekallion, o Deus da Guerra.

O politeísmo é muito respeitado no continente. Entretanto, com as mudanças da sociedade com o passar do tempo, a maioria da população de Issartel ficaram fiéis apenas ao Deus Lial, filho da Grande Deusa Saad, pai da humanidade. Não há proibição alguma de seguir os outros deuses, inclusive admiram os festivais e tradições. Algumas regiões adoram mais alguns deuses do que outros, mas na capital são majoritariamente fiéis de Lial. Não há grande preocupação se uma pessoa segue ou não a religião, mas a igreja pode ser considerada um fator de ascensão social para alguns, por isso há uma pressão imperceptível em seguir o deus do templo presente na cidade. Alguns filhos de nobres que não herdam o título viram soldados, entram para a igreja ou se casam com alguém de poder.

A Igreja Branca é destinada para realizar cultos em adoração aos deuses. São responsáveis também pelos casamentos, cerimônias e arrecadação de doações para a manutenção da Igreja Branca e Vermelha. Podem ser conselheiros de nobres, se necessário. No passado os sacerdotes tinham dons divinos capazes de curar um enfermo e ofertar bençãos aos súditos. Especula-se por rumores não confiáveis que as habilidades divinas foram subvertidas pela corrupção do sacerdócio ao usá-las para o interesse próprio, especialmente a mando da nobreza em troca de grande quantia de dinheiro. Por isso não há nenhum sinal de uma santidade — um sacerdote extremamente poderoso — há quase dois séculos. Entretanto, sempre surge algum rumor de que uma pessoa comum conseguiu usar os dons divinos e, antes da existência dos Maltas, se provado que o indivíduo não possui nenhuma ligação com a feitiçaria são convocados à igreja para se tornarem sacerdotes azukianos (Azuk também é outro nome dado ao Deus Lial) se conseguirem mostrar aptidão ou pequena capacidade de demonstrar a graça divina. São sacerdotes extremamente raros; Além disso, alguns clérigos podem consumar o casamento, embora não seja aconselhável, pois a Igreja Branca preza pelo celibato.

A Igreja Vermelha e a Igreja Branca faziam parte de uma só. Com o passar do tempo, perceberam que precisavam de um sistema mais ostensivo contra suas inimigas de longa data. Separados por ordem do arcebispo e do rei, embora ainda recebesse ordem da Igreja Branca, a Igreja Vermelha se tornou um grupo hostil para as bruxas, treinados, geralmente, desde a infância. Qualquer pessoa pode se agregar a esta Igreja, embora as mulheres são mais passíveis aos certos preconceitos. Eram batizados na igreja, recebem os ensinamentos eclesiáticos, mas são intensamente condicionados para lutar. Eram guiados pela missão de limpar o reino de Issartel das malditas feiticeiras, mas com a praga do sangue negro e a morte de muitos inquisidores, a Igreja abriu as portas para mercenários e pessoas sem nenhum grau de instrução. Na época, alguns nobres incutia e patrocinava cruzadas contra a bruxaria, pois acreditavam firmemente que a doença era obra das bruxas. Por isso, encontrá-las e assassiná-las poderiam ser uma forma de vingança para aqueles que perderam entes queridos, enquanto torciam para achar a bruxa que lançou a maldição. Como a baixa na Igreja Vermelha era bastante considerável, destinaram parte do dinheiro para contratar pessoas para a caça, incluindo pessoas desesperadas a não passar fome e sustentar a família. Os motivos eram diversos. Poucos voltavam. Aqueles que retornaram conseguiram se manter na Igreja, mas com o número muito pequeno, preocupando o Monsenhor, cargo mais alto da Igreja Vermelha. As pessoas tinham medo de se envolver. Há dois anos instaurou-se um novo sistema, foi colocado preço na cabeça das bruxas — e dos maltas. Os inquisidores não precisavam passar por um treinamento complexo, bastava participar de algumas reuniões e receber o selo da Inquisição. Era por sua conta em risco. Alguns viraram — Sacerdotes — Inquisidores oficiais, outros apenas temporários e unicamente pelo dinheiro patrocinado pela nobreza e família real. Os inquisidores sacerdotes (puristas), aqueles que cresceram para se tornar armas da Igreja Vermelha, possuem estigmas sobre os inquisidores após a febre do sangue negro.